reencontramo-nos na varanda do seu t0, uma barreira viral entre as nossas peles e eu tinha medo que o vento me aproximasse dele e encolhi-me na cadeira que ele nunca usa. eu não queria ler as linhas na sua testa então ele leu-me excertos do seu diário. aos quarenta escrevia sobre o ócio e agora escreve sobre a morte. perguntou-me porque é que estava a chorar e respondi-lhe que era apenas muito bonito. depois eu li-lhe dos meus textos. vi-o contorcer-se perante a palavra orgasmo mas não sobre os bichos debaixo das pálpebras, não sei se por ser pai se por ser homem, mas quando terminei disse-me que olhava um espelho. quis perguntar-lhe se se aprende a gostar do reflexo, porque é que largou a bomba atómica, se ainda amava ser pai. não perguntei nada e ele avisou-me do pôr-do-sol e improvisou um poema na hora. visitava-o em plena pandemia e nunca nos tocáramos tanto.
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